quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ambientalistas ameaçados de morte no Pará

 Funeral de  casal de ambientalistas assassinados é marcado por protestos e revolta.

Quem não se lembra do caso Dorothy Stang? A freira que foi executada em 2005 no Pará por pistoleiros a mando de fazendeiros poderosos porque lutava por um desenvolvimento sustentável e era contra o contrabando de madeira? Pois é, parece que após toda aquela exposição midiática a situação não melhorou mesmo. Pelo contrário!

A situação no Pará está insustentável. Até agora, são 30 (trinta) ambientalistas ameaçados de morte, segundo o documento que foi entregue oficialmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) ao Ministério da Justiça este ano. O que acontece, entretanto, é muito pior que a simples ameaça: é a omissão. Nada foi feito diante deste documento e a consequência foi a execução de um casal de ambientalistas na terça-feira passada.

O nome da freira Dorothy Stang também estava nesta lista em 2004 (um ano antes de ser assassinada). Da mesma forma, o nome de um dos cônjuges assasinados, José Cláudio Ribeiro da Silva, estava nesta lista elaborada pela CPT desde 2001. "Todos se omitiram", denuncia o advogado da CPT, José Batista.

A região de Nova Ipixuna mantém uma das poucas reservas de castanhais que ainda resta no sul paraense. A sanha madeireira de derrubar a floresta para exportar o produto e transformar o restante em carvão se acentuou com a criação do pólo guseiro na região, que utiliza restos de madeira para abastecer os fornos das usinas de ferro-gusa em Marabá.

Na reserva, o casal de ambientalistas assassinados, juntamente com seus familiares e os assentados da área, trabalhavam com o extrativismo de andiroba, semente de onde se extrai o óleo, assim como a castanha-do-pará, cupuaçu e outras frutas nativas da Amazônia. A castanheira é uma árvore frondosa de madeira cobiçada pelas serrarias da região. Galhos e sobras da madeira são utilizadas pelos madeireiros para fazer carvão para fornecer as guseiras.


"Eles eram destemidos, paravam caminhões de madeireiras que entravam na reserva para roubar madeira, fotografavam e denunciavam ao Ibama, Ministério Público, Polícia. Eles eram incansáveis", conta o advogado da CPT, comparando a luta do casal de ambientalistas paraenses ao maior ícone da luta pela floresta na Amazônia, o acreano Chico Mendes, também assassinado na década de 1980. Infelizmente, lamenta Batista, todos se omitiram. "Eles faziam o papel do Estado, mesmo com a arma sendo apontada para eles", complementa José Batista.

O diretor da CNS no Pará, Atanagildo Matos, lamenta a perda dos companheiros de luta: "Eles nos deixam uma lição, que é o ideal dos extrativistas da Amazônia: permitir que o povo da floresta possa viver com qualidade, de forma sustentável com o meio ambiente".

Agora, resta saber: até quando ficaremos lamentando enquanto mais sangue heróico e inocente é derramado no solo que tanto queremos defender...?

Escrito por: Ana Luiza  
Fonte: Jornal do Brasil

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